A noite caiu, e as estrelas cintilavam como incontáveis sonhos queimando no breu, iluminando a imensidão da Grand Line.
Na Academia Naval, uma figura permanecia no corredor do dormitório. Usando o brilho da Via Láctea como lâmpada, Francis fitava as cerejeiras que ladeavam a alameda lá embaixo. Seu olhar se perdia na distância.
"Eu… transmigrei mesmo?"
"Não tenho o sobrenome Monkey nem Gol, e não tenho ligação com os Dragões Celestiais. Mas ser um aluno da Classe de Zephyr não é um mau começo."
"Só que… o que significa essa Akuma no Mi da Arma?"
Francis mergulhava em pensamentos. Poucos minutos antes, havia despertado de um sonho e, de repente, suas memórias da vida passada voltaram à tona. A enxurrada de lembranças sobre o mundo dos piratas invadiu sua mente, causando-lhe uma dor latejante na fronte. Saiu para respirar e organizar as ideias.
"A Buki Buki no Mi… ela me permite transformar qualquer parte do meu corpo em armas. Nada mal."
"Não é uma Logia nem uma Zoan Mítica, mas é melhor do que ser indefeso."
"Só que… essa não era a fruta de uma subordinada do Doflamingo, aquela mulher chamada Baby 5?"
Um frio percorreu-lhe a espinha.
"Será que… se eu não tivesse recuperado minhas memórias, teria morrido logo, e a fruta teria ido parar nas mãos dela? Doflamingo teria me matado?"
Seu coração apertou. Sentiu um alívio inicial por não estar na mesma turma que Ain e Binz — assim não correria o risco de enfrentar Edward Weevil no ataque à academia —, mas agora o peso da incerteza voltava com força.
"A Academia Naval dura apenas um ano."
"Isso significa que tenho, no máximo, doze meses antes de ser enviado por Marineford para algum dos Quatro Mares… ou até mesmo para uma base na Grand Line."
"Mesmo que meu palpite sobre Doflamingo esteja errado, se eu acabar designado para o Novo Mundo… mais cedo ou mais tarde vou enfrentar Doflamingo — ou monstros ainda mais aterrorizantes do que ele."
Ele cerrou os punhos.
"E o que eu teria para enfrentá-los?"
"Apenas a Buki Buki no Mi?"
A irritação cresceu dentro dele. Se tivesse uma Logia ou uma Zoan Mítica, não importaria se tivesse de encarar Doflamingo ou criaturas ainda piores — não sentiria medo. Mas com uma Paramecia como essa? A lembrança da fruta em mãos de Baby 5, criando apenas armas comuns, fazia sua frustração ferver.
Ele não tinha o corpo especial de Teach para trocar de frutas. Estava preso àquela habilidade.
O vento noturno soprou suave, fazendo as cerejeiras ao redor balançarem. Pétalas rosadas se soltaram dos galhos e começaram a dançar pelo ar. O espetáculo efêmero varreu sua raiva e, ao mesmo tempo, acendeu uma centelha em sua mente.
"Cerejeiras…"
"E se eu conseguisse transformar a Buki Buki no Mi em algo além do comum? E se ela pudesse gerar uma Zanpakutō? Mesmo que fosse apenas a Senbonzakura, já superaria Logias e Zoans Míticas."
Um sorriso leve surgiu.
"Doflamingo não seria nada diante disso."
De repente, sua visão escureceu. O céu estrelado desapareceu. O dormitório sumiu.
Diante dele, uma gigantesca ponte suspensa se materializou. Sobre ela, um homem trajando um uniforme de shinigami o fitava. Seus olhos frios, como lâminas, atravessavam o guerreiro robusto que se erguia à sua frente.
"Então é isso?" — a voz do shinigami ecoou.
"Você é da família Shiba… nesse caso, não seria educado continuar pegando leve."
Ele ergueu a katana diante do rosto, com a serenidade de um nobre.
"Disperse… Senbonzakura."
O aço brilhou em um tom púrpura. A lâmina se fragmentou, desmanchando-se em incontáveis lâminas minúsculas que lembravam pétalas de cerejeira — belas e mortais.
Elas voaram como um enxame de espíritos rosados.
O guerreiro robusto arregalou os olhos. Seu corpo inteiro se tensionou, mas não havia nada que pudesse fazer. Em um instante, foi envolto por milhares de lâminas que o cortaram em pedaços.
O som do sangue respingando se misturou ao farfalhar das "pétalas".
E então… tudo desmoronou. A ponte, o shinigami, as lâminas cintilantes e até mesmo o guerreiro dilacerado se desfizeram como vidro quebrado.
Francis piscou. O dormitório havia retornado. O vento balançava as cerejeiras. Pétalas continuavam caindo.
"Uma ilusão…?" — murmurou, atônito.
Foi quando uma voz, ou melhor, um pensamento, ecoou diretamente em sua mente:
[Sua compreensão é extraordinária. Através da autoanálise e da Buki Buki no Mi, você compreendeu uma técnica única: Senbonzakura.]
O coração de Francis disparou.
Senbonzakura.
A Zanpakutō de Byakuya Kuchiki. Talvez não fosse a mais poderosa, mas certamente era uma das mais deslumbrantes.
Com a liberação inicial, um simples comando permitia controlar milhares de lâminas em forma de pétalas, tanto para ataque quanto para defesa. O Bankai, então, era de um esplendor inimaginável.
"Então… esse é o meu trunfo."
Nem ser aluno da Classe de Zephyr, nem ter trazido a Buki Buki no Mi com a transmigração. Seu verdadeiro poder estava em sua compreensão sobre-humana.
Com ela, até mesmo uma fruta considerada mediana poderia liberar um potencial sem precedentes. Criar uma Zanpakutō com suas próprias mãos… Senbonzakura era a prova viva disso.
"Espera aí…" — Francis arregalou os olhos.
"Se eu consegui forjar a Senbonzakura… então também posso criar outras Zanpakutō!"
Um turbilhão de nomes explodiu em sua mente:
Ryūjin Jakka. Kyōka Suigetsu. Hyōrinmaru. Zangetsu. Benihime. Kamishini no Yari…
Armas lendárias, um após o outro, surgiam como magma em erupção.
Francis sorriu, erguendo a mão para apanhar uma pétala que o vento lhe oferecia.
"Buki Buki no Mi, hein?"
"Esse começo… parece incrível."
Naquele instante, toda a incerteza que o consumira desde a transmigração se dissipou.
O que restava em seu coração era apenas expectativa pelo futuro.