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NOAH AND THE VAMPIRE WORLD

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Synopsis
Noah, a 12-year-old boy trapped in a monotonous routine, sees his life turned upside down when he meets Hannah, a 13-year-old vampire who, without asking for permission, drags him into a dark and dangerous world from which he may never escape.
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Chapter 1 - CAPÍTULO 0 - PRÓLOGO

Noah estava espichado na cama, os braços apoiados atrás da cabeça, encarando o teto como se este pudesse oferecer alguma resposta para o sono que teimava em não chegar. Lá fora, a pequena cidade no interior do Kansas dormia sob um silêncio espesso, quebrado apenas pelo farfalhar ocasional das árvores. Ele se virou de lado e espiou pela janela aberta — a lua, enorme e pálida, parecia ter subido só para ele, iluminando os telhados e lançando sombras longas pela rua deserta.

O dia havia sido… bom. Mais do que bom, até. Mas a lembrança vinha acompanhada de um sabor estranho, agridoce, como se houvesse um veneno escondido sob o mel. Ele sabia que, quando o sol voltasse a nascer, traria consigo um dia terrível. Um presságio incômodo se enroscava no seu peito. Ainda assim, tentou se convencer de que nada de tão ruim assim poderia acontecer.

Mas a ansiedade não lhe dava trégua. E, junto dela, o medo. O medo do que poderia — e talvez inevitavelmente iria — acontecer. Quanto mais tentava afastar os pensamentos, mais eles se multiplicavam, como insetos num quarto escuro. O coração batia rápido, quase em compasso com o tic-tac abafado do relógio de mesa.

Foi então que ele ouviu. Passos. Lentos. Pesados. Subindo o corredor. Noah enrijeceu o corpo, certo de que era o pai. Virou-se, fechou os olhos e fingiu dormir.

Os passos pararam. Silêncio.

E então, voltaram.

Não havia toque na porta. Não havia voz. Apenas o som constante de algo — ou alguém — caminhando. Noah manteve-se imóvel, embora cada músculo implorasse para se mexer. Um arrepio lhe correu pela espinha.

Por pouco, pensou. Por muito pouco.

Noah decidiu que, se permanecesse dentro do seu refúgio — seu quarto — nada poderia acontecer. Essa certeza, no entanto, começou a ruir quando percebeu que, graças à ansiedade que lhe apertava o peito, dormir seria impossível. Era como ter uma mão invisível e fria agarrada ao coração.

— Que saco… — murmurou, antes de, instintivamente, levar a mão à boca. Não deveria ter feito barulho àquela hora.

Um copo d’água, pensou. Talvez ajudasse. Mas sair daqui… sair de seu território seguro… significava arriscar-se. E o risco, para Noah, não era encontrar monstros escondidos na escuridão — mas sim piorar o dia seguinte, que já prometia ser ruim.

Pior do que um dia horrível na escola, só um dia horrível depois da escola. Um castigo acabaria com a única fortaleza que tinha contra o ódio silencioso que o mundo parecia nutrir por ele. Uma criança de doze anos não deveria ter que pensar desse jeito — mas Noah pensava. E repensava. E pensava mais um pouco.

Chegou à conclusão de que chegar sonolento à escola traria mais problemas do que atravessar o corredor e pegar um mísero copo d’água.

Nas pontas dos pés, Noah afastou o cobertor e se ergueu devagar, como se o ar ao seu redor fosse vidro prestes a estilhaçar ao menor movimento. O assoalho frio sob seus pés fez um arrepio subir-lhe pela espinha, e o rangido abafado da cama pareceu ecoar alto demais no silêncio da casa.

Ele se aproximou da porta, o coração martelando no peito. Girou a maçaneta com cuidado, quase prendendo a respiração, e a madeira cedeu com um estalo suave — mas alto o suficiente para fazê-lo congelar no lugar.

Por alguns segundos, ficou parado, a cabeça inclinada para ouvir. Nada. Apenas o som distante de um relógio marcando o tempo, cada tic-tac parecendo mais lento que o anterior.

Espiou pelo vão da porta. O corredor se estendia à sua frente, mergulhado numa penumbra irregular, onde o luar se infiltrava pelas frestas das janelas. As paredes, com seu papel de florzinhas desbotadas, pareciam mais estreitas àquela hora, como se o observassem.

Noah deu o primeiro passo. Depois outro. Cada tábua sob seus pés protestava com um leve estalar, e ele se esforçava para pisar apenas onde lembrava que o chão era mais silencioso.

Chegando ao fim do corredor, olhou para a esquerda, depois para a direita. Nada. Ainda assim, sentia… algo. Uma presença. Invisível, mas densa, como se o ar fosse mais pesado que o normal.

E então começou a descer as escadas.

— Horário da bruxa… se ela me tirar desse lugar, que apareça então… — murmurou com ironia.

Seguiu até a cozinha. O chão rangia sob seus pés, e o ar parecia mais denso ali, carregado com um silêncio que não era bem silêncio. Noah podia jurar que sentiu uma presença atrás dele. Não se virou. Apenas continuou. Pegou o copo, encheu de água, e foi nesse momento que um som cortou o ambiente — passos. Ou talvez um leve arrastar. Ele ignorou.

E então, uma voz feminina. Familiar. Ele se virou e viu, emergindo da sombra do corredor, a silhueta de uma mulher. Era sua mãe. As curvas do corpo, o tom da voz, tudo confirmava. Mas… por um instante, Noah poderia jurar que algo — outra sombra — passou por trás dela.

— Por que você quebrou o vaso? — perguntou ela, sem preâmbulos.

Noah congelou, ainda com o copo na mão. Não entendeu a acusação e ficou calado. Sua mãe franziu o cenho, aproximou-se e perguntou com suavidade:

— Você se machucou, fofo?

Ele negou com a cabeça, frio.

— Já acabou de beber sua água?

Outro aceno seco.

— Então vá dormir. Mas… tome cuidado com os monstros.

Noah suspirou, quase rindo.

— Mãe… eu já tenho doze anos. Não acredito nessas coisas. — fez uma pausa, e num tom zombeteiro completou — Aliás… pensando bem, você está certa. Essa casa está cheia de vampiros feios e horrorosos.

Foi aí que ele ouviu. Um som baixo, quase imperceptível, vindo de algum canto escuro da cozinha. Um bufar, como se alguém — ou algo — tivesse se ofendido. Noah se limitou a engolir em seco, virar as costas e subir para o quarto.

Noah se deitou novamente, puxando o cobertor até o queixo, mas não conseguiu ignorar a sensação de que havia outra presença na casa. Aquela sombra atrás de sua mãe… o bufar abafado… era como se, no fundo, algo tivesse ficado ofendido com ele. E estava certo disso: seja lá o que fosse que o observava, não estava nada feliz agora.

Os minutos se arrastaram, a escuridão parecia cada vez mais densa, e então… nada. Apagou. Nem se deu conta de quando o sono o venceu. Quando abriu os olhos, já havia luz entrando pela janela.

Ele não sabia dizer o que havia sido real e o que fora apenas sonho. Suspirou pesadamente. A tão temida segunda-feira tinha chegado.

Levantou-se, calçou as pantufas de ursinho, já gastas, e resmungou para si mesmo:

— Preciso pedir novas… essas são infantis demais.

Descendo as escadas, ainda coçando os olhos, encontrou o pai parado na sala, os braços cruzados, olhando diretamente para ele. O olhar era firme, quase severo, e Noah já se preparava para ouvir um sermão. Sua mãe, ao lado, sorria com aquele jeito doce de sempre, mas não dizia nada.

O silêncio durou alguns segundos — até que o pai sorriu. Não um sorriso largo, mas o suficiente para desmontar a tensão.

— Dormiu bem, campeão? — perguntou, com a voz grave.

— Mais ou menos — respondeu Noah, desconfiado.

— Hm… — o pai assentiu, como se analisasse algo. — Bom… o café está pronto. Não demore, você sabe que odeio atrasos.

A mãe se virou e seguiu para a cozinha, e o pai a acompanhou. Noah foi atrás deles, quase trotando — se não fosse rápido, chegaria atrasado à escola.

Ao sentar-se, começou a comer como se estivesse competindo com o relógio.

— Noah! — o pai franziu o cenho. — Quantas vezes já falei pra não comer assim na mesa? Quer se engasgar logo cedo?

— Desculpa… é que eu tô com pressa.

— Pressa não é desculpa pra falta de modos — retrucou o pai, servindo-se de café.

O resto do café da manhã transcorreu como sempre. Conversas banais, pratos tilintando, a luz clara da manhã entrando pela janela. Mas Noah não conseguia afastar a sensação de que havia algo errado.

Após se arrumar, Noah ouviu o som inconfundível do ônibus escolar freando em frente à casa. Pegou a mochila e saiu, descendo os degraus com o olhar fixo no chão. O ar frio da manhã não ajudava a aliviar o peso no estômago.

Assim que entrou no ônibus, sentiu — como sempre — os olhares. Alguns, rápidos e disfarçados; outros, demorados e cheios de desgosto. Era como nos filmes americanos… com uma diferença: Noah não tinha o “melhor amigo engraçado” para sentar ao lado. Não tinha ninguém.

Caminhou até o fundo, o último assento, e se jogou contra a janela. Os outros conversavam, riam, trocavam mensagens, mas para ele… silêncio. Invisibilidade.

E era exatamente isso que ele era: apenas mais um entre trinta e quatro alunos. Um nome que poucos lembravam — e, quando lembravam, era só para piorar sua vida.

Por mais que tivesse pais bons e uma vida confortável, faltava algo que o dinheiro não comprava: amizade. Noah não admitia isso em voz alta. Dizia a si mesmo que não precisava. Mas, no fundo, sabia que mentia.

Será que sou… bonzinho demais? — pensou, olhando o próprio reflexo no vidro. — Será que acham que sou falso? Só quero ser… gentil.

Quando chegaram à escola — a segunda melhor da cidade, como seu pai sempre fazia questão de lembrar — Noah entrou em sala e se sentou no lugar de sempre.

O tempo passou lentamente, e a única vez em que ouviu seu nome foi na chamada da professora:

— Noah! — chamou, sem tirar os olhos da lista.

— Presente — respondeu, de forma quase automática.

E o dia seguiu.

Peter, um repetente de quatorze anos, ocupava um lugar no canto da sala. Maior, mais forte, e com fama de encrenqueiro, ele era o tipo de aluno que todos evitavam. Noah também. Mas, curiosamente, Peter parecia nem saber que ele existia — nunca havia lhe dirigido a palavra, nem para zombar.

Na hora do almoço, Noah atravessou o refeitório como um fantasma. Sentou-se em uma mesa vazia, a bandeja à sua frente. Ao redor, as vozes, gargalhadas e grupos se misturavam… mas nenhum som vinha na sua direção.

Sozinho no ônibus. Sozinho na sala. Sozinho no refeitório. Sozinho em todo lugar.

E esse era o verdadeiro terror de Noah.

O terror que Noah carregava na escola apenas se dissolvia quando ele sentia sob os pés o primeiro degrau de madeira da escada de casa. Aquela sensação era como soltar um peso do peito… mas só parcialmente. A sombra do dia ainda o seguia.

Antes que pudesse girar a maçaneta, a porta se abriu de repente. Seu pai surgiu no vão, apoiando-se de leve no batente, com o rosto iluminado pelo reflexo quente da luz do corredor.

— Como foi a aula? — perguntou, com um tom amistoso que tentava ser natural.

— Foi legal — respondeu Noah, sem emoção, a voz quase um murmúrio mecânico.

O pai, porém, manteve o olhar nele por um segundo a mais. Um olhar que parecia tentar atravessar a superfície, adivinhar o que se escondia por trás.

— E os amigos? — perguntou, com um interesse repentino. — Brincaram muito?

Noah sentiu o estômago revirar. Um silêncio espesso caiu entre os dois, durando apenas o suficiente para parecer estranho. Então, ele forçou um sorriso, tão falso que quase doía manter.

— Foi demais! O Teddy e eu brincamos de pega-pega. Aí chegou mais gente e se juntou a nós. Virou uma guerra!

Mentira pura. Noah não conhecia nenhum Teddy. Não havia brincado com ninguém. Aquelas palavras eram apenas um disfarce que ele vestia por hábito.

— Isso é ótimo, filho. — O pai assentiu, satisfeito, e lhe deu um tapinha no ombro, antes de se virar para o corredor.

Noah subiu as escadas devagar, cada degrau rangendo sob seus pés. Abriu a porta do quarto com cuidado, como se não quisesse acordar algo invisível que pudesse estar lá dentro, e se deixou cair na cama. O colchão afundou levemente sob seu peso. Fechou os olhos. Sentia-se exausto, como se cada músculo estivesse saturado. Era um turbilhão de emoções misturadas — raiva, solidão, cansaço.

— Ei! — chamou uma voz feminina, cortando o silêncio.

Noah, acreditando ser sua mãe, não respondeu. Não queria conversa.

— Ei! Garoto! — insistiu a mesma voz, mais próxima, mais clara.

Nesse instante, ele percebeu: não era a voz da sua mãe. Não era familiar. Era estranha. Uma voz que jamais tinha ouvido.

Os olhos de Noah se abriram lentamente. O ar pareceu mais pesado. E então ele viu.

Acima da cama, flutuava uma garota. Seu corpo não tocava o chão; o cabelo era curto, os fios balançando como se houvesse uma brisa que ele não sentia. O rosto era pálido, quase translúcido, e os olhos, fixos nele, carregavam uma expressão impossível de decifrar.

Noah permaneceu imóvel, o corpo rígido, a mente tentando se agarrar a qualquer explicação.

— Quem é horrorosa? — perguntou ela, com um leve sorriso que soava tanto curioso quanto provocador.

Noah não respondeu. Apenas permaneceu ali, preso no silêncio.