Ficool

Chapter 5 - Capítulo 5

Lu Bu não queria viver assim para o resto da vida. Mesmo que pudesse cultivar melhor a terra, eram apenas dois acres de Susukida; por melhor que fossem plantados, a produção seria sempre limitada. No futuro, ele não estaria muito melhor que o próprio pai. Uma vida cujo fim já se consegue enxergar de antemão definitivamente não era o que Lu Bu queria. Mesmo que não pudesse ser tão glorioso quanto em sua vida anterior, ele ainda queria viver a sua própria vida.

Mas como?Tudo o que Lu Bu conseguia pensar, além do cultivo, era na caça. Ele usava as presas que caçava para complementar a alimentação da família. De vez em quando havia carne na mesa, e às vezes ele pedia ao pai para vender as peles no mercado. Quando fez doze anos, graças a seus esforços, a vida de sua família finalmente melhorou um pouco. A mãe, que vivia pálida e magra o ano todo, agora tinha cor no rosto; e a irmãzinha já não estava tão franzina quanto antes.

Com doze anos, Lu Bu não era tão alto nem tão imponente quanto na vida passada, mas anos de caça o deixaram com uma aparência forte e ágil, e principalmente aqueles olhos afiados como os de uma águia intimidavam quem os encarasse. Muitos na aldeia vinham visitá-lo para propor casamentos, querendo dar-lhe uma filha em matrimônio, mas Lu Bu não se interessava por aquelas moças do campo. Embora fosse também um camponês nesta vida, não queria ser um camponês para sempre.

— Abu, a partir de agora você terá de pagar impostos também pela caça — disse Lu Hong, o Lizheng, sentado na casa de Lu Bu certo dia, com o pai ao lado. Quando Lu Bu entrou, ele falou sorrindo.

— Hã? — Lu Bu ouviu e seus olhos se tornaram frios. — Por quê!?

Em sua vida passada, ele fora um homem dominante. Embora viesse de origem humilde nesta vida, a ferocidade em seus ossos não havia desaparecido. Só que, depois de mais de dez anos de renascimento, Lu Bu aprendera a se conter e a esconder a ferocidade e a arrogância dentro de si. Mas isso não significava que aceitava ser intimidado.

Querer intimidá-lo? Só se tivesse muita sorte para continuar vivo.

— Garoto, o que você pensa que vai fazer? Isto é ordem do governo imperial! — disse Lu Hong, ficando pálido ao ver o brilho feroz nos olhos de Lu Bu. Ele era o homem mais instruído do vilarejo, mas ao ver o olhar do garoto, pensou: Esse moleque não vai me matar aqui mesmo, vai?

— Ordem do governo imperial? E daí? O governo não permite que as pessoas vivam? — Lu Bu resmungou friamente. Quem garantia que Lu Hong não estava apenas irritado ao ver a melhora na vida de sua família e inventara aquela desculpa para extorqui-los?

— Não seja rude! — O pai de Lu Bu se levantou apressado, repreendendo-o, e disse a Lu Hong: — Lizheng, eu não sei ensinar meu filho. Abu é jovem, não entende as coisas… não leve a sério.

— Jovem? — Lu Hong olhou para Lu Bu com desprezo. — Não pense que só por saber usar o arco com as duas mãos você é grande coisa. Acredita se eu disser que basta uma palavra minha para sua família ser expulsa de Luzhuang?

— Hã? — Lu Bu levou a mão ao machado na cintura e olhou para Lu Hong com um olhar feroz. Sua família era sua fraqueza e seu limite. Embora tivesse tido uma vida de glória antes, não ter família sempre fora uma dor. Agora, Lu Hong o ameaçava usando justamente a família? Isso ele não poderia aceitar.

— O que você vai fazer!? — Lu Hong ficou apavorado com aquele olhar. Esse garoto não sabe o que é ter medo? Aquele olhar parecia mesmo de alguém que mataria.

— Filho rebelde, pare com isso! — gritou o pai de Lu Bu, em pânico.

— Eu também vou te dizer! — Lu Bu não puxou o machado, mas aproximou-se e disse baixo, com frieza: — Minha família não vai pagar imposto nenhum. E você mesmo vai cobrir a falta. Caso contrário, eu acabo com a sua família inteira. Não acredita? Tente!

Embora Lu Bu não fosse tão alto e robusto nesta vida, com apenas doze anos já tinha mais de um metro e oitenta, e um ar feroz emanava de todo o seu corpo. Lu Hong ficou tão assustado que empalideceu e não conseguiu responder.

Depois de muitos pedidos de desculpa do pai de Lu Bu, Lu Hong saiu de casa, resmungando, sem olhar para trás.

— Filho rebelde, você vai nos trazer desgraça! — o pai apontou para ele, desesperado.

— Desgraça? Se o senhor não fosse tão fraco esse tempo todo, como Lu Hong teria coragem de nos intimidar assim? — Lu Bu respondeu na hora, sem se calar. Às vezes, quanto mais fraco você demonstra ser, menos limites os outros terão ao te pressionar.

— Desde os tempos antigos, o povo não enfrenta os oficiais. Se você fizer isso, vai trazer desastre para a família! — suspirou o pai. Ele se acostumara a ser submisso. Mesmo diante do próprio filho, quando Lu Bu endurecia, ele instintivamente se rendia.

— Oficial? Um simples Lizheng é oficial de quê? — Lu Bu disse com desdém. Para as pessoas de Luzhuang, o Lizheng era o maior cargo que poderiam encontrar, mas na verdade era apenas um intermediário entre o vilarejo e o império, quase sempre alguém poderoso localmente. A maior parte das terras da aldeia estava em suas mãos, e todos eram meeiros dele. Para Lu Bu, naquele pedaço de terra, não seria nada difícil acabar com ele se quisesse.

O pai ficou sem palavras, apenas suspirou:— Esqueça… Não podemos mais ficar aqui. Vamos arrumar nossas coisas e procurar outra vida.

Lu Bu não entendia por que o pai tinha tanto medo de um simples Lizheng… até aquela noite, quando a casa pegou fogo. Sua mãe e irmãzinha morreram queimadas. Lu Bu ajudou o pai a fugir, mas a casa virou cinzas. Lu Bu não sabia quem fez aquilo — e não precisava saber.

Na escuridão, alguém corria de volta às pressas. Lu Bu pegou o arco e atirou uma flecha. Ódio e dor devastavam seus nervos. Avançando, viu que aqueles homens não esperavam uma reação tão feroz. Tinham vindo para matar e agora eram mortos sem piedade por um garoto de doze anos.

A maioria daqueles aldeões costumava ser arrogante no dia a dia, mas nunca imaginaram cometer assassinato. Menos ainda esperavam que Lu Bu reagisse assim, matando-os com tanta frieza.

— Abu, eu estava errado, não me mate! Foi Lizheng que mandou colocar fogo! Eu não sei de mais nada, por favor, me poupe! — um dos homens caiu de joelhos diante dele. Lu Bu o reconheceu… mas como poderia perdoar? Sacou o machado e cortou-lhe o pescoço. O sangue manchou as lágrimas no rosto de Lu Bu. Ele não chorava havia muito tempo.

Depois de matar o último, Lu Bu não voltou para casa. Pegou dois barris de flechas, acendeu uma tocha e pôs fogo no vilarejo. Todos eram cúmplices. Ele queria destruir tudo.

Ele se posicionou num terreno alto, bloqueando a única saída da casa de Lu Hong. Quem saía, era abatido por uma flecha. O fogo cercava tudo, restando apenas a porta da frente — e Lu Bu estava lá.

Lu Hong jamais imaginou que aquele garoto fosse tão implacável. Ao ver o fogo aumentando, arrependeu-se profundamente. Correu até o portão, querendo dizer algo, mas uma flecha atravessou sua coxa. Caiu de joelhos, olhou para cima e viu os olhos de Lu Bu, selvagens como os de um lobo.

As chamas aumentavam. Ouvindo os gritos desesperados de seu povo, Lu Hong começou a bater a cabeça no chão, implorando:— Abu, eu estava errado! Estou disposto a pagar com a vida, por favor, me deixe ir! Sua tia já te abraçou no colo, você esqueceu?

Lu Bu apenas observou friamente. Os lamentos se misturavam com xingamentos. Os pedidos frenéticos de Lizheng não despertaram nenhuma piedade. Havia apenas ódio profundo e repulsa. Até que todas as vozes cessaram, e o próprio Lizheng foi engolido pelas chamas.Só então Lu Bu baixou o arco… mas o ódio monstruoso em seu peito não havia se dissipado.

More Chapters