Ficool

Chapter 1 - Capítulo 1 – Os Sonhos Que Nunca Realizei.

O som do relógio da recepção ecoava em meio ao silêncio tenso do hospital. Daniel Almeida da Luz, apenas um jovem de dezoito anos, sentava-se em uma das cadeiras de plástico, com as mãos unidas e os dedos tremendo. Seus olhos fixavam o chão branco e impecável, mas sua mente estava longe dali, perdida entre lembranças felizes de quando sua mãe ainda sorria sem dor.

— Daniel Almeida da Luz. — a voz suave da enfermeira ecoou no corredor.

Ele se levantou devagar, o coração acelerado, e caminhou com passos pesados em direção ao quarto. Cada passo parecia um fardo, como se o mundo inteiro estivesse pressionando seus ombros.

Quando entrou, encontrou sua mãe deitada na cama, o corpo frágil coberto por lençóis brancos. Apesar da palidez, ela sorriu assim que o viu.

— Oi, Daniel… senti sua falta. — disse com a voz suave, mas carregada de carinho.

Daniel se aproximou rapidamente, segurando a mão dela com cuidado.

— Quando a senhora volta para casa, mãe? — perguntou com um leve tremor na voz, como se implorasse por uma resposta positiva.

Maria Almeida da Luz, sua mãe, desviou o olhar, e o sorriso dela vacilou por um instante.

— Sinto muito, filho… mas os médicos ainda não disseram nada.

Antes que Daniel pudesse dizer algo, a porta se abriu e o médico entrou com uma pasta em mãos. Seu semblante sério denunciava mais do que qualquer palavra poderia explicar.

— Eu trouxe os resultados dos exames… — começou o médico.

Daniel respirou fundo, apertando os punhos.

— Não precisa falar mais nada.

O médico piscou, confuso.

— Como assim?

Daniel ergueu o olhar, os olhos brilhando com lágrimas contidas.

— Eu já sei… minha mãe vai morrer, não é? A sua cara já diz tudo.

O médico hesitou por um segundo antes de suspirar, baixando o olhar.

— Eu sinto muito, Daniel. Fizemos o máximo que pudemos… Vou deixar vocês a sós.

Ele saiu do quarto em silêncio, fechando a porta com cuidado.

Daniel voltou o olhar para sua mãe, tentando conter o desespero que o consumia. Maria respirou fundo e sorriu de um jeito triste.

— Sabe, Daniel… quando eu tinha a sua idade, eu tinha três sonhos.

Daniel segurou a mão dela com mais força, tentando gravar cada palavra.

— O primeiro… eu queria viajar pelo mundo. O segundo… eu queria que a minha arte fosse reconhecida. E o terceiro… eu queria salvar vidas.

Ela riu baixinho, um riso fraco, mas cheio de nostalgia.

— Mas… parece que nenhum desses sonhos vai se realizar para mim.

Daniel apertou os olhos, as lágrimas ameaçando cair. Ele não sabia o que dizer, mas naquele momento, uma promessa silenciosa começou a nascer dentro dele.

Daniel não conseguiu mais conter as lágrimas. Ele apertou a mão frágil de sua mãe com força, como se quisesse impedi-la de partir apenas com a força de sua vontade.

— Por quê…? — sua voz falhou. — Por que isso tinha que acontecer com você, mãe? Por que não comigo? Você não merece isso…

Ele abaixou a cabeça, as lágrimas caindo sobre os lençóis brancos. Seu corpo tremia de indignação, e a dor em seu peito parecia sufocá-lo.

Maria, com um esforço visível, levantou a mão trêmula e limpou suavemente as lágrimas do rosto do filho. O toque dela era quente, mas fraco, como se cada movimento custasse todas as forças que ainda restavam.

— Daniel… a vida é igual ao céu. — disse com um sorriso triste, a voz baixa, mas serena. — Uma hora é linda, outra hora não. Eu também queria passar mais tempo com você, meu filho… mas, infelizmente, não vou poder.

As palavras dela eram como facas no coração de Daniel, mas o olhar dela estava cheio de amor e ternura.

— Mas eu quero que você siga em frente… sem mim.

— Não fala assim… por favor… — sussurrou Daniel, chorando cada vez mais.

Maria respirou fundo, os olhos fixos no rosto do filho, como se quisesse gravar cada detalhe dele em sua memória. Então, o corpo dela começou a enfraquecer ainda mais, os dedos soltando lentamente a mão de Daniel.

— Mãe?… mãe, fica comigo! — Daniel a sacudiu de leve, em desespero.

Mas Maria fechou os olhos, e naquele instante o som mais temido tomou conta do quarto:

BIP… BIP… BIIIIIIIP…

A máquina de batimentos cardíacos apitou em um tom contínuo e frio, anunciando o fim.

— NÃO! MÃE! — Daniel gritou, abraçando o corpo dela, chorando como nunca havia chorado antes.

Enquanto o choro ecoava pelo quarto, Daniel sentiu algo dentro dele se quebrar… e, ao mesmo tempo, algo nascer: uma promessa silenciosa que mudaria toda a sua vida.

Anos depois…

Brasília brilhava com seus prédios espelhados sob o sol do fim da manhã. A cidade fervilhava com jornalistas, empresários e curiosos reunidos para a grande inauguração de uma nova empresa de tecnologia e escritórios corporativos — mais uma das inúmeras conquistas do homem que havia se tornado uma lenda viva no mundo dos negócios:

Daniel Almeida da Luz, o homem mais rico do mundo.

Ele desceu de um carro preto luxuoso, vestindo um terno sob medida impecável. Seus olhos, apesar do status e da fortuna, ainda carregavam a mesma melancolia de anos atrás. Cumprimentava acionistas e repórteres com um sorriso educado, mas vazio. Para ele, tudo aquilo era apenas rotina. Nenhuma quantidade de riqueza preenchia o buraco deixado pela perda de sua mãe.

Enquanto Daniel caminhava para o palco do evento, em outra parte da cidade, uma mulher também se dirigia para a inauguração.

---

Maria Almeida da Luz — uma mulher de 30 anos de aparência simples, mas de um charme natural — sentou-se no banco traseiro de um táxi, ajeitando o blazer que usaria para sua entrevista de emprego.

Por coincidência, carregava o mesmo nome da mãe de Daniel, algo que, em breve, mudaria completamente a vida dos dois.

Seu celular vibrou, e uma chamada de vídeo apareceu na tela: Ana.

Maria atendeu com um sorriso.

— Oi, Ana! Como você está?

Do outro lado, Ana suspirou, com expressão abatida.

— Sabe, amiga… eu e o Marcos terminamos.

Maria franziu o cenho.

— Como assim? Vocês pareciam tão bem.

— Ele não tinha tempo para mim, Maria. Trabalha demais, quase não parava em casa. Eu me sentia… sozinha.

Maria suspirou, compreensiva, mas com um olhar sério.

— Eu entendo, mas… Ana, ele trabalhava porque queria te dar a melhor vida possível. É isso que um homem de verdade faz pela mulher que ama.

Ana fez uma careta, balançando a cabeça.

— Mas você não entende! Eu não precisava de uma vida perfeita, eu precisava dele. Queria que ele tivesse tempo comigo, que ele me olhasse como antes…

Maria ficou em silêncio por um momento, olhando pela janela do táxi, vendo os prédios de Brasília passarem rápido. Então, sorriu com leve tristeza.

— O amor é complicado, né?… — murmurou, mais para si do que para Ana.

Ana apenas suspirou, e as duas continuaram conversando sobre coisas triviais até o táxi parar em frente ao prédio moderno onde aconteceria a inauguração.

Maria respirou fundo, desligou a chamada e desceu do carro. Segurou firme sua bolsa e olhou para o imenso edifício de vidro à sua frente.

Ela não sabia… mas aquele dia mudaria sua vida para sempre.

O saguão principal da inauguração estava cheio de empresários, jornalistas e curiosos, todos impressionados com a arquitetura moderna e os detalhes luxuosos do prédio. No centro do local, uma grande fonte artística exibia jatos de água sincronizados, formando desenhos no ar enquanto luzes coloridas refletiam nos vidros ao redor.

Maria entrou no salão, maravilhada. Seus olhos brilhavam como os de uma criança diante de algo mágico. Ela parou alguns segundos para admirar a fonte, um leve sorriso nos lábios.

Antes da entrevista de emprego começar, ela resolveu pegar um café na mesa onde ficavam as bebidas. Serviu-se com cuidado, equilibrando o copo de papel quente entre as mãos. Mas, distraída pela beleza da fonte, continuou olhando para ela enquanto andava.

— Uau… isso é lindo demais… — sussurrou para si mesma.

Foi então que tudo aconteceu em questão de segundos.

Maria deu um passo em falso, esbarrou em alguém e…

SPLASH!

O café escuro escorreu pelo terno impecável de um homem alto e elegante.

— Meu Deus! Me desculpa! Eu não vi você! — Maria arregalou os olhos, desesperada, tentando limpar o terno dele com um guardanapo.

Mas quando finalmente levantou o olhar para ver quem era… congelou.

Seu coração acelerou ao reconhecer o rosto que estampava jornais, revistas e noticiários do mundo inteiro.

— Você é… — ela gaguejou, pálida. — Meu Deus… você é o Daniel Almeida da Luz… o homem mais rico do mundo!

Ela recuou um passo, ainda segurando o guardanapo, totalmente constrangida.

Daniel, por sua vez, permaneceu em silêncio por alguns segundos, olhando fixamente para ela.

Seus olhos, acostumados a ver milhares de rostos todos os dias, ficaram paralisados. O mundo ao redor pareceu sumir. Maria, com o rosto levemente corado pelo constrangimento, tinha traços tão parecidos com os de sua falecida mãe que Daniel sentiu o peito apertar.

O mesmo olhar gentil, o mesmo sorriso tímido… era como se estivesse vendo um fantasma.

Maria, percebendo o silêncio dele, ficou ainda mais nervosa.

— Eu sinto muito! Eu… eu pago a lavagem do seu terno, juro! Eu não queria—

Mas Daniel a interrompeu, a voz baixa, quase em transe:

— Qual o seu nome?

Maria piscou, surpresa com a pergunta repentina.

— É… Maria. Maria Almeida da Luz.

Os olhos de Daniel se arregalaram um pouco mais. O mesmo nome. O mesmo rosto.

Por um instante, ele esqueceu completamente onde estava, sentindo como se o destino estivesse pregando uma peça cruel… ou, talvez, lhe dando uma segunda chance.

More Chapters