Os portões de Winterfell ficaram para trás ao som de ferraduras suaves sobre a neve compactada. O cavalo negro, fruto de sua vontade, avançava em ritmo constante, envolto em vapor quente que saía de suas narinas. O frio do Norte já não mordia a pele de Karma como antes. Era como se ele próprio tivesse se tornado parte daquela terra gélida. Mas agora, partia para o sul.
As florestas, as montanhas brancas, os rios congelados… cada trilha percorrida estava marcada em sua memória. Dois anos haviam passado desde que deixara Porto Branco, e embora o corpo fosse de uma criança de nove invernos, a alma dentro dele carregava o peso de muito mais.
*"Foi um bom começo,"* pensava.
No Norte, enfrentara lobos selvagens e homens piores que lobos. Ajudara camponeses moribundos, curara febres com toques de criaturas feitas especificamente para cura, enfrentara saqueadores ao lado de mercadores. Criara bestas para protegê-lo: corvos mensageiros, cães de caça, até uma águia feita de luz azul que lhe servira por semanas até desaparecer como fumaça ao pôr do sol.
Mas o que mais mudara não foram as terras — foi seu poder.
No início, criar era como puxar algo de um abismo escuro: exaustivo, caótico, e difícil de controlar. As criaturas surgiam simples, com instintos primários. Cães. Corcéis. Garras e presas. Quanto mais complexa a ideia, mais drenado ele ficava.
Até o dia em que, meditando diante das ruínas de um antigo bosque sagrado, ele compreendeu uma nova lógica.
A criação precisava de equilíbrio. Um sistema. Uma estrutura.
Lembrava que na obra de highschool dxd sagred gears evoluiam com desejos, necessidades e particularidades pessoais dos portadores.
Nasceu, então, a **Ficha de Criatura** — sua maneira de moldar com precisão as entidades que evocava. Cada monstro poderia ter poderes específicos, mas em troca, deveria conter fraquezas claras, limites bem definidos ou custos de ativação.
Um lobo que atravessava sombras? Só à noite.
Uma ave que cuspia fogo? Somente se houvesse brasa por perto.
Um urso com pele de pedra? Mas lento como uma rocha viva.
Esse equilíbrio o ajudava. Criar não o deixava mais de joelhos. Era mais sutil, refinado. Ele se tornara um criador... e um estrategista.
Mas mesmo com todo esse poder, não se sentia parte de lugar algum.
*"No Norte, os nobres temem o que não controlam."*
Lembrava-se do rosto tenso de cavaleiros que o evitavam. Lordes que ordenavam que ele se afastasse dos povoados. Um até ameaçara enforcá-lo se não desaparecesse. Magia, naquele mundo, era sinônimo de traição, de sangue, de antigos horrores.
E os plebeus? Muitos o adoravam... de longe. Cantavam canções sussurradas sobre o "menino feiticeiro", mas o olhavam com medo nos olhos. Mesmo quando curava, mesmo quando salvava.
Ele havia salvado um vilarejo inteiro de uma nevasca maldita. E, ainda assim, fora expulso na manhã seguinte.
— "Você não é natural" — haviam dito.
Karma encarava o horizonte. A estrada para o sul se abria diante dele. Terras novas, castelos desconhecidos, deuses diferentes. O Tridente. A Campina. Talvez até Porto Real.
Mas ele não abandonaria o Norte. Um dia, voltaria.
*"Ainda há um destino me esperando além da Muralha. Mas antes... devo conhecer este mundo."*
Ele estendeu a mão e materializou uma ficha invisível entre os dedos. Era apenas imaginação, mas sentia como se pudesse ver cada estatística, cada fraqueza, cada linha de poder da próxima criatura.
Sorriu.
Criador. Vagante. Rejeitado.
Mas também livre.
E não precisava de trono, casa ou brasão. Só de uma estrada e da próxima história.
Karma Slytherin cavalgou rumo ao Sul.
Dias Depois
As neves ficaram para trás, e o mundo parecia respirar diferente.
As Terras Fluviais se abriam diante de Karma como um mosaico de cores e sons. Campos férteis, colinas ondulantes e rios que corriam como veias abertas sob o céu azul. O clima era mais ameno que o Norte, e o povo parecia mais... inquieto. Não por frio ou guerra, mas por desconfiança. Era uma terra de pontes e cruzamentos — e de conflitos.
Karma viajou montado em sua criatura negra, a qual chamava de Umbra. Vestia um manto de algodão surrado e mantinha o capuz baixo, mas os olhos violeta sempre chamavam atenção demais.
Chegou a um vilarejo próximo ao rio Forca Verde, onde os pescadores rezavam aos Sete e os septões falavam com fervor. Curioso, entrou em uma capela. Um homem gritava sobre heresias, bruxaria e os perigos dos que se proclamavam curandeiros.
Quando Karma tocou o pulso de uma criança febril à saída, curando-a com um toque de luz, o murmúrio espalhou-se mais rápido que qualquer febre. Ao final da tarde, a mãe chorava de gratidão. À noite, um septão enviava uma mensagem selada para os Frey.
Dois dias depois, o som de cavalos invadiu a paz do campo.
— Em nome de Lorde Walder Frey! — gritou um homem com armadura desbotada. — Magia não autorizada é crime nas terras da Cerva!
— Vocês têm uma lei contra ajudar? — perguntou Karma, imóvel sobre Umbra.
— Contra feitiçaria! — rugiu o oficial. — Você foi denunciado por enganar o povo, corromper a fé e praticar artes negras!
Havia seis soldados. Nenhum parecia muito disposto a negociar. Karma suspirou.
— Eu não quero lutar. Mas não vou me ajoelhar por ter salvado uma criança.
Eles avançaram.
Karma estendeu a mão.
— "Ficha de Criatura: Escudo Vivo." — sussurrou.
Do chão brotou uma criatura translúcida, feita de cristal e carne, que envolveu Karma como uma muralha curva. Flechas ricochetearam. Espadas cortaram o ar. Umbra girou, relinchando, e um dos soldados foi lançado longe por um coice.
Karma não matou nenhum deles. Mas os derrubou com precisão, usando criaturas pequenas, velozes, criadas para desarmar, empurrar, cegar. Quando o último caiu, arfando, ele se aproximou.
— Voltem ao vosso senhor. Digam a ele que não busco guerra. Mas não me curvarei por ajudar. Se isso é crime, então o mundo está mesmo quebrado.
Deixou-os vivos, mas humilhados.
E naquela noite, sob as estrelas refletidas nas águas do Forca Verde, Karma escreveu em seu diário:
*"O Sul é mais quente, mas mais frio de coração. Aqui, a fé e o poder caminham juntos, e os fracos não têm espaço entre eles. Terei de ser forte. E justo. Ou me tornar como eles. E disso, recuso."*