Ficool

Chapter 2 - 2 Episódio

EPISÓDIO 2 – A Canção Que Ficou no Silêncio

Narrado por Ju-kyung

Nunca pensei que uma música pudesse me desestabilizar tanto.

Era para ser só mais uma canção no fim da festa. Um momento simbólico. Mas quando Seo-jun subiu no palco e os primeiros acordes preencheram o salão, alguma coisa dentro de mim tremeu.

As pessoas ao redor sorriram, bateram palmas, se emocionaram. Mas eu só consegui ficar parada. O mundo sumiu, e só restaram as palavras que ele cantava.

Não era sobre amor em geral.

Era sobre nós.

Sobre o que não dissemos.

Sobre o que deixamos morrer.

Ele não me olhou diretamente, mas cada verso parecia escolhido para mim. Quando terminou, não esperou aplausos nem ficou para fotos. Saiu do palco como se soubesse que já tinha feito o necessário. E desapareceu.

Depois da festa, minha irmã estava radiante. E eu? Eu me escondi no quarto. Era estranho me sentir assim num dia feliz. O quarto estava escuro, mas meus pensamentos gritavam.

Peguei o celular. Ainda nenhuma resposta do Su-ho. Abri nosso histórico de mensagens. Todas curtas, espaçadas, frias. Não era só a distância física entre nós. Era a ausência de vontade. De afeto. De "nós".

Pensei em mandar uma mensagem. "Você ouviu a música?", talvez. Ou: "Está tudo bem entre nós?" Mas no fim, apaguei o que escrevi e deixei o celular de lado.

A canção do Seo-jun ainda tocava na minha cabeça.

Na manhã seguinte, minha mãe só falava da lua de mel de Hee-kyung e das fotos que pretendia imprimir. Sorria, radiante. Eu concordava com a cabeça, mesmo sem prestar atenção.

A verdade é que me sentia estranha. Não era tristeza exatamente. Era um sentimento que eu não conseguia nomear. Uma mistura de confusão, saudade, culpa e um tipo silencioso de arrependimento.

Tentei desenhar para me distrair. Mas toda vez que o lápis tocava o papel, meu traço formava algo que me lembrava ele. Os olhos fechados enquanto cantava. A expressão contida. A dor oculta.

Fechei o caderno.

Decidi sair um pouco. Andar sem rumo às vezes me ajudava a organizar os pensamentos. O vento da manhã estava frio. Enrolei o cachecol no pescoço e coloquei os fones de ouvido, mas não dei play em nada. Só queria silenciar o barulho do mundo.

Cheguei até o lago onde costumava ir no colégio. Era um lugar simples, com bancos de madeira e árvores altas. Sentei ali e fiquei olhando a água. Lembrei de quando estávamos todos juntos. Eu, Su-ho, Seo-jun, Hee-kyung… Era tudo tão diferente.

Hoje, cada um estava em um ponto diferente do mundo — e do coração.

Meu celular vibrou. Era uma mensagem do Su-ho.

"Desculpa não ter respondido antes. Estou ocupado com os estudos. Vamos conversar em breve."

"Em breve."

Quantas vezes eu já tinha lido isso?

Enquanto encarava a tela, ouvi uma voz familiar.

— Esse lugar ainda te acalma?

Virei devagar. Seo-jun estava parado ali, de mãos nos bolsos, com o mesmo casaco da noite anterior. Sentei mais ereta, surpresa.

— Não achei que fosse te ver tão cedo — murmurei.

— Eu também não achei que teria coragem — ele respondeu.

Sentei em silêncio. Ele pediu permissão com o olhar e se sentou ao meu lado.

— Aquela música… — comecei.

— Foi para você. — Ele foi direto. — E eu sei que não devia ter feito isso num momento assim. Mas não dava mais pra guardar.

— Eu não sabia que ainda… — pausei. — Que ainda sentia algo por mim.

— Eu tentei apagar. Mas tem coisas que a gente não escolhe esquecer.

Fiquei olhando o lago. As folhas caíam devagar, e a água refletia o céu cinza.

— Eu ainda estou com o Su-ho — disse, mesmo que minha voz tremesse.

— Eu sei. E não estou aqui para interferir. Só precisava que você soubesse.

Nos olhos dele havia calma, mas também dor.

— Você mudou, Seo-jun.

— E você também, Ju-kyung. Agora você brilha… mas parece mais sozinha.

Aquela frase me atingiu. Talvez porque fosse verdade.

— Eu pensei muito em você enquanto estive longe — ele continuou. — E sei que não tenho mais espaço na sua vida. Mas se um dia você olhar para trás e se perguntar se alguém ainda te vê como antes… Eu vou estar lá.

Ele se levantou.

— Cuida de você, tá?

E foi embora. De novo.

Fiquei ali mais alguns minutos, tentando digerir tudo.

A música dele ainda ecoava. Mas agora, havia algo mais: uma despedida embutida nas entrelinhas. E um alívio estranho por ele ter sido sincero.

Voltei para casa com o coração mais calmo, mas ainda dividido. Entrei no quarto, abri meu caderno e desenhei. Não ele. Nem o Su-ho.

Desenhei a mim mesma.

Sentada diante do lago, com os olhos perdidos e o coração cheio de silêncio.

Fim do Episódio 2

More Chapters