Cinco dias.
Era tudo o que restava até o mundo desabar.
Desci as escadas com passos lentos. O cheiro do arroz recém-cozido encheu o ar.
Minha irmã mais nova — Aya — sorria na cozinha, com o uniforme torto e os cabelos presos de qualquer jeito.
> — Bom dia, Kaito! Você finalmente acordou cedo!
— …
Ela morreu no terceiro dia. Esmagada por um monstro que eu nem consegui matar.
A imagem da sua cabeça sendo arrancada me perseguiu por cinco anos.
Agora ela estava ali. Viva. Respirando. Inocente.
Meus dedos tremiam.
> — Kaito? Tá tudo bem?
> — … Tô sim. Desculpa.
Me forcei a sorrir. Era horrível. Mas eu precisava fingir. Por enquanto.
No colégio, nada parecia ter mudado. Gritos nos corredores, fofocas nas salas, gente reclamando das provas.
Mas para mim, tudo era diferente.
Ali estavam os Jogadores Escolhidos. Todos ainda humanos. Inseguros. Felizes.
E entre eles… os futuros traidores.
Sentei no fundo da sala, onde sempre fiquei.
> — Kaito Renji… ainda o mesmo lobo solitário?
A voz doce e afiada me arrepiou.
Ela se sentou ao meu lado, com um sorriso de canto. Cabelos negros, olhos cinzentos como tempestade.
Yume Kisaragi. A garota que se tornaria a Rainha das Sombras.
A vilã que matou milhares no segundo ano do Jogo.
E a única que hesitou antes de tirar minha vida.
> — Hm. Ainda tentando provocar todo mundo, Yume?
> — Heh. Sempre. Você ainda é divertido de irritar.
Ela riu. Mas eu vi além.
Medo. Raiva. Dor. Ela ainda não havia despertado o que existia dentro dela.
> "Talvez… dessa vez eu possa salvá-la."
O sinal bateu. A aula começou. Mas minha mente já estava no primeiro objetivo:
> Sobreviver ao primeiro ataque.
Naquela noite, a primeira masmorra instável surgiria bem aqui, na cidade.
E a primeira criatura a sair dela… mataria 237 alunos.
Incluindo Aya.
> — …Não dessa vez.