Narrado por Akira
O sangue secou nas minhas mãos, mas não no meu coração.
Depois que cortei a garganta daquele maldito, não voltei. Não olhei para trás. Não escrevi outra carta. Só andei. Para longe. Para dentro. Para o fundo de mim mesmo.
Mas a cada passo, ele me chamava.
Caos.
Ele sussurrava em meus sonhos. Mostrava imagens da minha mãe... do meu irmão... da vila queimando. E, no fim, mostrava a mim mesmo. Não o garoto de dezesseis anos, raivoso e quebrado. Mas um monstro de olhos dourados e aura branca. Um rei sem alma.
"Você já é parte de mim", dizia ele.
"Você só precisa aceitar."
Eu lutei. Juro que lutei.
Mas a raiva... a dor... a solidão...
Tudo me empurrou para o abismo.
---
[Um ano depois]
O mundo mudou. As sombras ficaram mais densas. Os reinos, mais cautelosos. A Ordem da Névoa e a Seita do Fim Branco travam guerras silenciosas... e eu? Eu apenas corto o que está no caminho.
A lenda do espadachim de olhos dourados se espalhou.
Alguns dizem que sou um anjo caído. Outros, um demônio vestido de humano.
Não corrijo nenhum deles.
Minhas katanas — Éter e Nêmesis — gritam por sangue. Elas conhecem meu ritmo. Me obedecem. E eu as alimentei com o sangue de dezenas... centenas.
Minha aura branca brilha como fogo vivo. Mas meu peito... é gelo.
---
Em outro lugar...
— Não pode ser... — Seth diz, espiando de uma colina o homem que caminha entre os destroços de uma vila saqueada. — Aquele é...
— Akira. — Velka confirma, a voz presa na garganta. — Mas... o que ele se tornou?
O garoto que um dia gritava por justiça agora não grita mais.
Ele apenas silencia o mundo com suas lâminas.