Ficool

Chapter 12 - Capítulo 12 – Onde o Vento Não Leva o Nome

O céu daquela região era de um azul que eu não conhecia. Não o azul comum das manhãs, mas um tom antigo — como se o próprio céu lembrasse de um tempo antes da dor.

Seguíamos por um campo aberto, onde o vento dançava entre espinhos dourados. As montanhas da Torre Negra estavam longe agora, como um pesadelo que já não podia nos alcançar.

Velka caminhava ao meu lado em silêncio. Mas havia paz em seu silêncio, não tensão.

— Aqui era onde os antigos cultivavam ecos — ela disse, quase sorrindo.

— Cultivavam o quê?

— Era como chamavam as flores que cantavam com o vento. Hoje estão todas mortas. Mas dizem que, se você escutar com o coração... ainda pode ouvir.

Ficamos parados. Escutando.

E por um momento, eu ouvi.

Não era uma canção. Era uma memória. Risos de crianças, palavras gentis, algo que nunca tive, mas sentia falta.

Talvez fosse o que chamavam de "lar".

Velka me olhou com olhos que não julgavam.

— Você pensou em sua mãe, não foi?

Assenti.

— Quando Caos falou comigo... parecia saber tudo. Como se ele fosse o próprio espelho do que me destruiu.

— Talvez seja. Mas mesmo espelhos podem ser quebrados. E você não é feito só de dor.

— Não?

— Não — ela tocou meu peito. — Aqui dentro também tem coragem. E outra coisa.

— O quê?

— Amor.

Fiquei imóvel.

— Você tem certeza?

— Não — ela riu, suave — mas quero descobrir. Ao seu lado.

Sentamos numa rocha. O sol começava a cair.

Ela encostou a cabeça no meu ombro. Pela primeira vez, não senti raiva, nem sede de vingança, nem sombra.

Só... calor.

— Se o mundo acabar amanhã — eu disse — você se arrependeria de ter vindo comigo?

— Se o mundo acabar amanhã... então hoje valeu a pena.

Fechei os olhos.

E naquela pausa, naquele instante esquecido pelos deuses e pela guerra... nós dois deixamos de ser armas. E viramos apenas pessoas.

Vivendo.

More Chapters