Ficool

Chapter 3 - Capítulo 3 – Lições de Sangue e Fogo

— Você sabe que lutar com raiva só serve pra morrer mais rápido, né?

A voz de Velka ecoava enquanto eu limpava o sangue do meu braço com um pedaço de pano rasgado. O Olkruun jazia atrás de nós, uma massa disforme de carne e pedra. Morto.

— E o que você queria que eu fizesse? Sorrisse enquanto aquela coisa me destroçava?

Ela riu, uma risada seca.

— Não. Queria que usasse a cabeça. Você tem alguma coisa contra viver?

— Só tenho uma coisa a fazer nesta vida. E não envolve correr de monstro.

Ela me olhou de lado. O vento agitava seus cabelos trançados, revelando uma cicatriz que cortava sua sobrancelha esquerda.

— Vingança, hein? — murmurou. — Típico. Quase todos os garotos que salvo da morte dizem isso.

— Eu não sou como os outros.

— Ainda mais típico.

Bufei, irritado. Mas havia algo nela que me prendia. Não era só a beleza selvagem ou o jeito como ela se movia com confiança e força. Era o olhar. Como se já tivesse visto o que eu ainda nem imaginava. Como se carregasse cicatrizes que não mostrava a ninguém.

Velka caminhou até o corpo do Olkruun e tirou uma adaga curva da bota. Começou a arrancar algo da carcaça.

— O que está fazendo?

— A medula da besta. Vale ouro para alquimistas. E pode ser usada em feitiços de purificação... ou destruição. — Ela me lançou um olhar de canto. — Interessado?

— Eu só quero matar os filhos da puta da Ordem da Névoa.

Ela parou.

— Você disse Ordem da Névoa?

Assenti.

O rosto dela endureceu.

— Então talvez tenhamos um problema em comum, garoto.

Ficamos em silêncio por um tempo. O céu acima se pintava de cinza, anunciando tempestade. Velka se aproximou, a sacola cheia de partes da criatura pendurada no ombro.

— Escuta, Akira... — ela disse, pela primeira vez usando meu nome. — Se quiser sobreviver nessa merda de mundo, vai precisar de mais do que raiva. Vai precisar de treino. De foco. E... de alguém que o faça lembrar que ainda é humano.

— E você quer ser essa pessoa?

Ela se aproximou. A ponta dos nossos narizes quase se tocando.

— Talvez. Você tem olhos como os meus... cheios de ódio. Mas também tem algo mais aí dentro. Algo que nem você sabe ainda.

Fiquei sem palavras. Por um momento, meu peito doeu — não de tristeza, nem de raiva. De algo que eu não sabia nomear.

— Vamos, raivoso. — Ela se virou. — Tenho um esconderijo nas montanhas. Se sobreviver à subida, te ensino o que sei. E, quem sabe... descubro se vale a pena me importar com você.

Ela sorriu, e pela primeira vez... eu quis segui-la.

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