Logo após nosso encontro com o Conde Stein e sua filha, meu pai e eu adentramos a mansão, atendendo ao convite de Margareth.
Ela solicitou que eu aguardasse na antecâmara enquanto ela e meu pai discutiam assuntos que, honestamente, eu não conseguia imaginar quais seriam.
— Seria algo relacionado à visita do Conde Stein? — refleti em silêncio.
— Qual seria o propósito da presença daquela jovem acompanhando seu pai? Seria ela também uma desperta nas artes arcanas? Não há sentido em especular sobre isso agora.
Pouco tempo depois, uma serviçal de aparência distinta — aparentando aproximadamente trinta anos — adentrou o recinto trazendo uma bandeja.
— Sir Elian, trouxe alguns doces e leite para vossa apreciação, enquanto Sir Lucius conversa com a Senhora Margareth — disse ela com um sorriso cordial.
Seu nome era Julia. Possuía olhos castanhos de expressão serena, cabelos negros meticulosamente presos em um coque discreto e uma postura naturalmente refinada. Devia ter aproximadamente um metro e cinquenta e nove de altura.
— Se eu ainda possuísse minha forma adulta original... provavelmente me sentiria atraído por ela. Talvez até considerasse a possibilidade de cortejá-la. — pensei, divertindo-me internamente com tal noção absurda em minha condição atual.
Dirigi-lhe um sorriso discreto e expressei meu agradecimento. Ela executou uma leve reverência e retirou-se do aposento em silêncio respeitoso.
Eu já havia compartilhado o desjejum com minha família, entretanto... recusar tal oferecimento seria quase uma descortesia. Além disso, os biscoitos revelaram-se surpreendentemente deliciosos — possivelmente os mais refinados que provei desde minha chegada a este mundo. Não eram idênticos aos que minha mãe preparava na Terra... mas evocavam sua memória de forma agridoce.
Apesar de já estar relativamente adaptado a esta nova existência, ainda me surpreendo ocasionalmente imerso em recordações de meus pais anteriores... e principalmente dela... minha irmã.
Seu semblante, seu derradeiro olhar, as provações que enfrentamos juntos...
— Espero sinceramente que ela encontre-se em um lugar de paz — murmurei, erguendo o olhar com o coração pesaroso.
Afastei deliberadamente tais sentimentos para as profundezas da consciência, como já me habituei a fazer, e busquei distrair-me observando o ambiente ao meu redor.
Frequento esta mansão há aproximadamente dez meses, e mesmo tendo percorrido diversos aposentos, raramente dediquei atenção aos detalhes arquitetônicos e decorativos...
Durante as horas matinais, o salão principal da mansão era banhado por uma luminosidade dourada que penetrava através das janelas elevadas, realçando o brilho suave do mármore claro e evidenciando cada elemento dos móveis elegantemente dispostos. Cortinas de veludo azul, cuidadosamente recolhidas, permitiam a entrada de uma brisa delicada e perfumada proveniente dos jardins externos. Sobre a mesa central, um arranjo floral recém-colhido exalava uma fragrância sutil, como se pretendesse apenas estabelecer sua presença sem impor-se ao ambiente.
O lustre de cristal suspendia-se majestosamente do teto e refletia os raios solares com um fulgor delicado, enquanto a lareira, mesmo inativa, exibia seu mármore branco meticulosamente polido com silenciosa imponência. A atmosfera transmitia uma serenidade aristocrática, simultaneamente acolhedora e refinada — o tipo de ambiente onde até o silêncio parece ter sido deliberadamente concebido.
— Margareth é, indubitavelmente, uma autêntica representante da nobreza... — refleti, examinando cada detalhe com renovada atenção após concluir minha pequena refeição.
★★★
Aproximadamente trinta minutos transcorreram desde que fui deixado sozinho naquele aposento. Pouco depois de finalizar meu lanche, meu pai e minha mentora retornaram ao salão.
Ele despediu-se com tranquilidade, informando que retornaria para buscar-me antes do crepúsculo. Ergui-me e o abracei brevemente. Apesar de minha aparente idade infantil, gestos dessa natureza ainda me afetavam com uma intensidade que eu procurava não demonstrar externamente. Ele sorriu, afagou meus cabelos com afeição paternal e partiu.
Restávamos apenas eu e Margareth. Ela dirigiu-me seu olhar característico, simultaneamente tranquilo e autoritário, e pronunciou simplesmente:
— Acompanhe-me, Elian.
Segui-a em silêncio respeitoso.
Percorremos um corredor lateral até nos determos diante de uma porta confeccionada em madeira escura, adornada com inscrições finamente entalhadas. Ao abri-la, deparei-me com um ambiente incomparável a qualquer outro que já havia presenciado — tanto neste mundo quanto em minha existência anterior.
Runas complexas revestiam o piso, as paredes e até mesmo porções do teto, pulsando sutilmente como se possuíssem vida própria. O recinto emanava um tipo de energia densa e vibrante — não hostil, mas inegavelmente poderosa. Era um espaço concebido para transcender o mero estudo acadêmico: constituía um autêntico santuário de forças arcanas.
— Isto... transcende o conceito comum de artes arcanas — refleti, quase verbalizando o pensamento.
Era místico, sagrado... quase primordial em sua essência.
Margareth observou-me e, ao perceber minha expressão de admiração genuína, permitiu-se um discreto sorriso. Era uma daquelas expressões raras, belas em sua sutileza — um sorriso que parecia comunicar: "Compreendo perfeitamente o encantamento que isto provoca." Não consegui evitar a reflexão: Em sua juventude, ela certamente possuía uma beleza extraordinária...
— Teria ela optado deliberadamente pelo celibato? E, em caso afirmativo, por qual motivo? — refleti silenciosamente. Talvez, eventualmente, eu reúna coragem suficiente para formular tal questão.
Ela iniciou sua explanação, interrompendo minhas divagações. Aliás, hoje meus pensamentos parecem excessivamente voltados para questões estéticas... ou mais especificamente, para a apreciação feminina. Não que tais reflexões sejam incomuns em minha mente, mas hoje apresentam-se com intensidade inusitada. Deve ser... algum fator circunstancial. Enfim.
— Recordas-te quando mencionei que te instruiria nas artes arcanas silenciosas? — indagou, com voz serena porém assertiva.
Assenti em confirmação.
— Entretanto, antes de aprenderes a utilizá-las sem recorrer a cânticos ou selos, necessitas iniciar pelo fundamento essencial. E o princípio fundamental... reside na utilização de selos e na entonação do cântico invocatório.
Ela fez uma pausa deliberada, como se concedesse-me tempo para assimilar adequadamente suas palavras, e então prosseguiu:
— Certamente já observaste que, até o presente momento, nunca te ensinei efetivamente nenhuma arte arcana prática, correto?
— Sim — respondi prontamente.
Era incontestável. Durante os últimos dez meses, desde o início deste "treinamento", ela jamais havia demonstrado sequer um único encantamento. Nada de projeções ígneas, formações glaciais, barreiras protetoras ou qualquer outro fenômeno arcano característico. Ocasionalmente, questionava-me se ela não me considerava suficientemente capacitado e apenas prosseguia com minha instrução devido à insistência de meus progenitores.
— Isso ocorre porque teu organismo ainda não apresentava a preparação necessária — explicou ela.
— Como assim? — indaguei, genuinamente confuso.
Margareth assumiu uma expressão reflexiva, seus olhos âmbar fixando-se nos meus com aquela intensidade característica que lhe era peculiar.
— Considera o seguinte, Elian... — disse, com voz serena. — Lembras-te quando iniciei tua instrução abordando a origem fundamental das artes arcanas?
— Sim — respondi, rememorando as lições iniciais sobre a natureza do mundo, as energias primordiais e os mistérios ancestrais.
— E posteriormente te ensinei a prática meditativa para compreender e acumular energia no núcleo de tua Runa?
Assenti novamente em confirmação.
De fato, durante esses meses, dediquei a maior parte do tempo à meditação profunda, procurando perceber e compreender as energias circundantes. Inicialmente, a sensação era quase imperceptível — uma sutileza comparável à brisa matinal acariciando a epiderme. Contudo, com o transcorrer do tempo... uma transformação significativa ocorreu. Comecei a perceber como se uma corrente silenciosa de poder estivesse sendo gradualmente incorporada ao meu ser. Algo interno, progressivo... inexorável em sua natureza.
Margareth prosseguiu com sua explanação:
— Após o despertar inicial como Bruma, o processo natural consiste no desenvolvimento gradual das veias de mana no organismo, os canais internos através dos quais a energia arcana flui. Somente quando essas veias atingem desenvolvimento adequado torna-se possível avaliar o verdadeiro potencial de um indivíduo para as artes arcanas.
Ela fez uma pausa significativa, mantendo seu olhar firmemente conectado ao meu.
— Tu despertaste diretamente como Centelha. Não experimentaste o processo gradual de formação das veias, consequentemente, apesar de já possuíres a Runa da Centelha, não podias utilizá-la efetivamente. Não existia um mecanismo para extrair a mana de teu núcleo e manifestá-la como fenômenos arcanos.
— Então foi esse o motivo pelo qual dediquei todos esses meses exclusivamente à prática meditativa?
— Precisamente! — respondeu com convicção evidente. — Mas não exclusivamente por essa razão. Necessitavas também compreender profundamente essa energia denominada mana. Era imperativo formar adequadamente tuas veias... e preparar teus portões.
Portões? Franzi o cenho, manifestando clara perplexidade. Ela percebeu minha confusão e respondeu com uma indagação inesperada:
— Qual é tua compreensão sobre a natureza dos selos?
Jamais havia refletido profundamente sobre tal questão. Em minha existência anterior, como mago ritualista, os selos eram empregados para invocar entidades ou forças divinas durante cerimônias específicas. Talvez... existisse alguma analogia? Arrisquei uma resposta fundamentada nesse conhecimento prévio:
— Presumo que os selos funcionem como instrumentos para invocar as energias ambientais, moldando-as na forma de um fenômeno específico. Contudo... ainda não compreendo claramente o conceito de "portões" que mencionastes.
Margareth observou-me com expressão contemplativa, e um discreto sorriso formou-se em seus lábios — aquele tipo de expressão que comunica "estás na direção correta, falta apenas o elemento conclusivo."
— Tua compreensão aproxima-se consideravelmente da realidade. A distinção fundamental reside no fato de que não manipulas diretamente a energia ambiental. O que efetivamente utilizas é a energia que acumulaste em teu próprio núcleo arcano. Para contextualizar: durante estes meses, conseguiste preencher aproximadamente um quarto da capacidade de tua Runa. Convém ressaltar... tal feito é excepcionalmente raro. Apenas indivíduos com autêntico talento arcano conseguem tal realização.
Ela fez uma breve pausa antes de prosseguir, adotando expressão mais grave:
— Os portões existem precisamente para impedir que dissipes essa energia acumulada de maneira descontrolada e ineficiente. Teoricamente, aparenta-se utilizar apenas a energia ambiental, entretanto, na prática, ocorre uma fusão entre a energia de teu núcleo — que apresenta maior pureza e refinamento — e a energia bruta circundante.
— A energia ambiental isoladamente é incapaz de gerar fenômenos arcanos. Apresenta-se instável, impura em sua essência. Os portões, quando adequadamente ativados através dos selos correspondentes, funcionam como catalisadores essenciais. Permitem que a energia de teu núcleo combine-se com a energia externa, purificando-a e, consequentemente, manifestando o fenômeno desejado.
Silêncio reflexivo.
Inspirei profundamente. O conceito revelava-se consideravelmente mais complexo do que inicialmente imaginara, contudo... apresentava coerência indiscutível. Possuía lógica interna, propósito definido, e até mesmo certa elegância conceitual.
— Em síntese... os selos funcionam como chaves que ativam e desativam esses portões energéticos? — indaguei, buscando confirmar minha compreensão do conceito.
— Precisamente. — confirmou ela com um discreto movimento afirmativo. — Os selos apresentam estrutura relativamente simples. Sinceramente, acredito que quando as entidades que denominamos "deuses" nos transmitiram esse conhecimento, presumiram que nossa capacidade cognitiva seria insuficiente para assimilar sistemas mais elaborados. — acrescentou com expressão ligeiramente desdenhosa e tom sutilmente sarcástico.
Tal observação provocou-me um discreto sorriso, porém ela rapidamente suavizou sua expressão e complementou, adotando abordagem mais pragmática:
— Entretanto, sob determinada perspectiva, tal simplicidade revelou-se benéfica. Imagine a dificuldade de transmitir conceitos complexos a uma criança de cinco ou sete anos? A simplicidade dos selos assegura que mesmo iniciantes possam manipular as artes arcanas sem provocar danos a si próprios.
A observação apresenta inegável sensatez. Para um indivíduo comum — não para alguém com minha experiência prévia, evidentemente — seria praticamente impossível compreender o funcionamento dos portões energéticos e a fusão de energias sem um mecanismo acessível para canalizar tais processos. Os selos, portanto, funcionavam analogamente as rodinhas em uma bicicleta: um suporte fundamental durante os estágios iniciais do aprendizado.
— A partir de hoje — ela prosseguiu — iniciarei tua instrução nos Quatro Selos Fundamentais. Não apresentam complexidade excessiva. Na realidade, serão relativamente simples para alguém com tua capacidade. Contudo, presta atenção: apesar de sua aparente simplicidade, são absolutamente obrigatórios. Sempre que pretenderes utilizar qualquer arte arcana, necessitarás empregar um deles.
Quatro selos. Quatro chaves para ativar os portões da alma.
Finalmente, o verdadeiro início de minha jornada arcana.